domingo, 9 de janeiro de 2011

PALAVRA DE PAJÉ


A Ala Jovem abre espaço para a cultura indígena através de entrevista concedida pelo Pajé Guaíra no evento Revelando entre Serras que termina hoje em Atibaia.

O pajé  Guaíra nasceu na aldeia do Bananal que fica entre Peruíbe e Itanhaém no estado de São Paulo, sua iniciação deu-se desde pequeno, pois já se interessava pelos mistérios da natureza, plantas e curas espirituais. Ele nos contou que só algumas pessoas tem o dom espiritual concedido por Nhanderu ( Deus), não é qualquer um que pode ser um pajé.                    
                                                                                              Foto: Gilberto Sant'Anna
AJ- O que faz um pajé?
PG- Os portugueses quando descobriram o Brasil ficaram intrigados com aqueles velhinhos que faziam curas e rezas e eram até então conhecidos como feiticeiros. O pajé tem grande responsabilidade pela espiritualidade dos integrantes de sua aldeia.Todo o meu conhecimento se dá através de sonhos, recebendo orientações e revelações de Nhanderu ( Deus), sobre qual remédio devo usar para a cura de determinadas doenças. Tudo o que quero conseguir, obtenho com a prática de mentalizações.
                                                                                          Foto: Gilberto Sant'Anna
 
AJ- Qual é o papel do cacique na aldeia?
PG- O cacique trabalha diretamente com a comunidade, resolve os problemas de organização dentro da aldeia.
AJ- Fale um pouquinho sobre a cultura dos índios?
PG-A nossa cultura nasce, cresce e morre pela natureza, os mais velhos vão passando conhecimentos aos mais jovens através da sua sabedoria “oral”. A nossa comida é natural, comemos carnes de caça, pesca e muitos legumes e frutas.
                                                                                           Foto: Gilberto Sant'Anna

AJ-As pessoas da tribo utilizam a língua portuguesa para se comunicarem?
PG-Na tribo tem uma escola, mistura-se o tupi e a língua portuguesa, a cultura indígena está se perdendo, conseguimos uma escola diferenciada, para preservar também a nossa língua.
AJ-O senhor já leu algum livro?
PG-Leio um pouquinho de cada.
AJ-Qual é a influência do homem branco na vida de vocês?
PG-O índio tem que saber viver com os brancos, os brancos ensinam coisas boas e ruins, levam bebidas alcoólicas quando vão nos visitar, eu proíbo a entrada delas na aldeia.
AJ- Qual é o papel da mulher na aldeia?
PG-A mulher deve cuidar dos filhos, quando quer ir embora vai, mas, se afasta da nossa cultura.
AJ-Uma mensagem para o homem branco:
PG:Peço aos amigos em geral, para que eles ajudem o branco entender  que nós queremos ser uma civilização sadia, os índios estão acabando e isso é muito ruim, há muita mistura, peço que os homens pensem um pouco  mais na cultura do índio.
                                                                                           Foto: Gilberto Sant'Anna

O processo de aculturação irreversível ao qual  os índios brasileiros são submetidos é fruto de uma sociedade niilista que pretende a qualquer custo universalizar tudo e todos.O nosso capitalismo pós-moderno ou hipermoderno ,como queiram , desparticulariza culturas seculares em nome do DEUS MERCADO.
Estive em 2.009 no Mato Grosso do Sul, e, constatei a terrível situação  vivenciada pelos índios dos arredores da cidade de Dourados, vi muitas vezes índias e até mesmo crianças totalmente embriagadas, aldeias inteiras catequizadas pelos brancos, e, infelizmente adormecidas em seus mais puros e preciosos instintos.
A resistência heróica do Pajé Guaíra conservando tradições importantíssimas para o bem estar do seu povo é um grande exemplo a ser seguido.

“Guarda nos olhos tua floresta, Curumim, que o homem branco já vem te ensinar o significado da palavra Fim.”


DICAS:
Leitura musical:  CD- Kangwaá – Cantando para Nhanderu.
Livro:  A guerra dos Tamoios  / Autor: Aylton Quintiliano


Abraços,
Juliana Gobbe






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